quinta-feira, 24 de março de 2011

Moral e a Ética. Nós e os nossos valores.



“Os conceitos de moral e ética, embora sejam diferentes, são com frequência usados como sinônimos. Aliás, a etimologia dos termos é semelhante: moral vem do latim mos, moris, que significa “maneira de se comportar regulada pelo uso”, daí “costume”, e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é “relativo aos costumes”. Ética vem do grego ethos, que tem o mesmo significado de “costume”. Em sentido bem amplo, a moral é o conjunto das regras de conduta admitidas em determinada época ou por um grupo de homens. Nesse sentido, o homem moral é aquele que age bem ou mal na medida em que acata ou transgride as regras do grupo. A ética ou filosofia moral é a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral.” (ARANHA; MARTINS, 1993)

Avalie o conceito acima apresentado. Ele esclarece ou deixa dúvidas? Sabemos mais ou menos depois de ler estas palavras? Aprendemos ou simplesmente agregamos mais alguns dados, sem que cheguemos a transformar essa informação em conhecimento? Aliás, qual a diferença entre informação e conhecimento? Saraivada de dúvidas e questionamentos sem fim, a função da filosofia é justamente essa, ou seja, fazer com que nossos neurônios entrem, literalmente, em ebulição...

E um dos temas que normalmente geram dúvidas é a discussão sobre o significado muito aproximado dos termos Moral e Ética. Nesse sentido é imprescindível lembrar que ambos relacionam-se a costumes, como indicado na definição dada pelas professoras Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins, em sua já clássica obra “Filosofando – Introdução a Filosofia” (Editora Moderna), e também a valores, contextos, ideias que prevalecem, grupos que dominam...

Inicialmente vale destacar que a colocação de Aranha e Martins é esclarecedora no que tange a delimitação, ainda que a partir de um tracejado que para muitos é de difícil visualização, quanto à diferença entre moral e ética. É ilustrativa também ao nos mostrar que na maior parte do tempo utilizamos o conceito de ética quando deveríamos usar o de moral, já que o segundo refere-se “a maneira de se comportar regulada pelo uso”, enquanto o primeiro, relativo à ética, constitui a ação de análise e reflexão “a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral”.

Na maior parte das circunstâncias da vida real que demandam nossa opinião (e evidentemente, valoração ou emissão de juízos de valor), no atual contexto de globalização - como a crise econômica, a corrupção política, as guerras ou mesmo em situações corriqueiras, do cotidiano, como quando alunos colam ou pessoas furam fila em bancos – nos referimos aos atos que consideramos errados como decorrentes da falta de ética. Deveríamos falar em moral...

Para isso utilizamos como base de raciocínio e análise, os elementos e valores condicionantes culturais de nossa sociedade – tempo e espaço – que prevalecem nos espaços em que estamos inseridos. Por exemplo, condicionante clássico, já plenamente estabelecido e que, há pouco mais de 200 anos seria combatido por expressiva e influente parcela do extrato social dominante, refere-se à ideia de que o “trabalho dignifica e enobrece” enquanto, por outro lado, a ociosidade é um mal, um problema ou mesmo uma chaga social...

Há 200 anos prevalecia, ainda que decadente, a lógica da nobreza, que praticava e advogava em favor do ócio, influenciando fortemente até mesmo sua algoz burguesia, que apesar de estruturar sua ascensão e glória no trabalho e na busca incessante do capital, admirava as pessoas de “sangue azul” e copiava não apenas seus hábitos e modismos, mas também algumas de suas ideias. Entre as quais, por exemplo, a ideia reinante então de que o trabalho, em especial aquele que exigia que se sujassem as mãos, não cabia a pessoas dignas, finas, elegantes...

Ou seja, ao apresentarmos este exemplo queremos demonstrar como nossa compreensão e avaliação moral de acontecimentos e ações que ocorrem ao nosso redor está submetida a fatores e elementos que são condicionadores e que, de certa forma até mesmo nos aprisionam, sem que nem ao menos tenhamos plena consciência disso...

E é nesse momento e a partir desse ensejo, ou seja, da compreensão que nem mesmo nossos pensamentos, ainda que os pensemos livres e independentes de qualquer influência, podem prescindir da ética como elemento de reflexão sobre a moral.

Os conceitos são, portanto, interdependentes se temos a intenção real de pensar com profundidade, superando os limites estreitos a que na maioria das vezes somos submetidos, buscando compreender não apenas guiados pelos valores contextualmente dominantes. Entender as questões e emitir juízos de valor, que percebam a moral dominante, e ir além desses condicionantes culturais, a partir de um exame criterioso e crítico daquilo que está sendo colocado em questão e das respostas que a sociedade normalmente daria, é ir além da moral e, aí sim, pensar eticamente.

Fonte:http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=1434

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