sexta-feira, 25 de março de 2011

AULA DE RELIGIÃO;É POSSÍVEL ENSINAR FELICIDADE EM SALA DE AULA?






PARA MEU FILHO FERNANDO FELLIPE ...MEU PRESENTE DE ANIVERSÁRIO:
SÓ FELICIDADES... MUITAS!!!


“... o negócio dos professores é ensinar a felicidade (...) o mestre nasce da exuberância da felicidade. E, por isso mesmo, quando perguntado sobre sua profissão, os professores deveriam ter coragem para dar a absurda resposta: Sou um pastor da alegria” Rubem Alves


Terminei o último post com a frase de Alexander Neill afirmando que o professor deve ser “o promotor da felicidade em sala de aula”, mas como promover a felicidade sem que antes se faça uma profunda análise sobre o seu verdadeiro significado?
Por causa do carinho da minha querida aluna da sexta série do Colégio José Garcia de Freitas, Lorena Bastos, que exaltou meu ego criando uma comunidade para mim no Orkut, “
Fernandão, o Mágico dos Mágicos” é que comecei a entender com clareza o que Guimarães Rosa quis dizer com “quem quer viver feliz faz mágica”.
Na língua persa, a palavra
"mágica" significa tanto imagem quanto sabedoria, ou seja, e só mesmo através de um mínimo de sabedoria poderemos encontrar o caminho para esta necessidade latente em todo ser humano... a felicidade.
O filósofo catarinense Huberto Rohden* (falei sobre ele
aqui no blog no dia de finados do ano passado), dizia que só um homem autorealizado pode ser feliz, e que esta autorealização só pode ser conseguida pelo autoconhecimento, que na tradução da expressão sânscrita atman, significa o conhecimento de uma verdade interior, do Eu verdadeiro, maiúsculo para dar um caráter divino à alma individual (“vós sois deuses” - Salmo 82:6 e João10:34).
Nenhuma outra frase nos induz mais ao autoconhecimento do que as palavras de Jesus em Lucas 17.21: “O reino de Deus está dentro de nós”, e, só por este viés que entendo plenamente o sentido da palavra felicidade.
Para reforçar este argumento aproveito para falar de um assunto ligado à minha formação acadêmica, resumindo o pensamento de três filósofos que viveram na Grécia antiga e que tinham visões distintas sobre o significado de felicidade: Epicuro, Diogenes e Zenon.

O primeiro deles, Epicuro, tinha uma filosofia muito parecida com o que entendemos por felicidade aqui no ocidente, onde os valores materiais e todos os deleites que o dinheiro pode proporcionar norteiam a vida das pessoas... O Hedonismo, que se fundamentava na concepção de que a felicidade estaria associada a todo tipo prazer (hedoné), valorizando o ego e a sensualidade. Era a filosofia do “ter tudo o que puder ter e gozar tudo que se puder e gozar”.
Já uma outra corrente, exatamente o contrário da primeira, mais identificada com a filosofia oriental, defendia o desapego total aos bens materiais e seu fundador, Diógenes, de Sínope, morava em um velho tonel no mercado de Atenas e seus únicos bens eram um alforje, um bastão e uma tigela, que simbolizavam o desapego e auto-suficiência perante o mundo. Era a filosofia do “não ter”, segundo a qual a felicidade não podia depender de “nada que o mundo pudesse nos tirar e não desejar nada que o mundo não pudesse nos dar"
É famosa a história de Diógenes saindo em plena luz do dia pelo mercado de Atenas, com uma lanterna acesa procurando por homens verdadeiros (ou seja, homens auto-suficientes e virtuosos). Outra história famosa de Diórgenes foi quando Alexandre, o Grande, rei da macedônia ao encontrá-lo tomando sol seminu no mercado de Atenas, ter-lhe-ia perguntado o que poderia fazer por ele e que atenderia qualquer pedido que lhe fizesse. Acontece que devido à posição em que se encontrava, Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para o Sol, disse: "Não me tires o que não me podes dar!"
A escola de Diógenes, os cínicos, fundada por Antístenes, negava o ego, a individualidade e o apego à matéria. Um exemplo disso, na filosofia oriental, é a vida de Shidarta Gualtama, o Buda, que abandonou todo o luxo em que vivia, o palácio e a família e partiu para o mundo em busca do conhecimento que o libertasse do sofrimento e conduzisse à felicidade ou, na ficção, em Caminho das Índias, a personagem de Lima Duarte,
Shankar, se torna um "renunciante", um Sanyase.
Nestas duas antíteses estão basicamente os dois conceitos principais que se entende por felicidade, a filosofia ocidental e a filosofia oriental, a felicidade baseada no “ter” e a mesma felicidade fundamentada no “não ter”.

Apareceu então uma terceira escola filosófica, a de um grande gênio chamado Zenon, cujo conceito de felicidade não se baseava em objetos ou circunstancias , mostrando que a atitude do homem diante dos objetos é muito mais importante do que o próprio objeto, transferindo a causa da felicidade do “ter” ou do “não ter” (objetos) para o “ser” (sujeito), mostrando, como disse o escritor William Ernest Henley: "o homem é o senhor do seu destino e capitão de sua alma" *, e que nunca vai encontrar a felicidade em
alo-realizações, o oposto da busca por autoconhecimento e autorealizações que, essencialmente, segundo o filósofo catarinense Huberto Rohden , "não diferem do que Jesus ensinou no “Sermão da Montanha”, que nada mais é do que buscar a felicidade dentro de si, cujo 'caminho das pedras', estão cristalinamente indicados em palavras como: 'pobres de espíritos', 'puros de coração', 'os mansos', 'os que sofrem perseguição por causa da justiça', 'os pacificadores', 'os misericordiosos', 'os que choram', 'os que amam os que os odeiam e fazem o bem a quem lhes fazem o mal'.
Mahatma Gandhi, que não era cristão, disse que se perdessem todos os livros sagrados da humanidade, e só salvasse o Sermão da Montanha... nada estaria perdido!"
Se a nossa escola pública não é confessional, então não necessita de aulas específicas de religião , eu, particularmente, prefiro chama-la de aula para "aprender a ser feliz", isto porque existe uma quantidade muito grande de religiões e crenças. e até quem não acredite em nenhuma delas, a questão não é concordar ou não com sua existência, mas a maneira como são ministradas. Deveria “puxar a sardinha para minha brasa” e defender aula de Ética”, já que em Filosofia, Ética está relacionada com o que é bom para o indivíduo e para a sociedade, e seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres neste relacionamento. Certamente alguns educadores estariam preparados para ministrar estas aulas, mas prefiro que este "religare" com a nossa essência divina perpasse por todos os conteúdos e fique ao alcance de todo educador que tenha consciência de sua importância e imite Alexander Neill promovendo-a em sala de aula.

* 30/07/2010: Pensamento que Nelson Mandela citava sempre para si nos 26 anos em que passou na prisão - filme "Invictus" (vi o filme esta semana), penúltimo parágrafo.


SERMÃO DA MONTANHA - Cid Moreira

* ESTA VISÃO CÓSMICA DO EVANGELHO (USANDO O SERMÃO DA MONTANHA) É UMA RELEITURA DO PENSAMENTO ILUMINADO DO FILÓSOFO BRASILEIRO HUBERTO ROHDEN

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